SEMENTES

Bem Vindos!

Sempre pensei que escrever é semear idéias.
Aqui vocês encontrarão as sementes que eu já plantei,
que germinaram, cresceram, deram flores e frutos.

Esse Blog é a semente dos frutos colhidos há muito tempo,
elas dormiram na escuridão por longos anos
e agora
eu estou a semeá-las novamente...,
para germinarem, crescerem, florescerem...
e um dia darem seus frutos.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

VIVER POR VIVER



Quinta-feira, 1/7/93

Viver por viver

BIA BOTANA

Não é mera coincidência que o surgimento da cocaína como droga popular esteja atrelada a um estado caracteirzado pelos acontecimentos que ocorrem em ritmo alucinante. A disseminação das drogas (LSD, maconha, ópio, haxixe, cocaína e suas variações, etc), a partir da década de 60, transformou o mundo, redimencionando a condição humana e transformando a sociedade, de modo que nos anos 80 a explosão mundial da cocaína fez com que as pessoas sofressem suas reações mesmo sem se drogarem, pois os fatos passaram a ocorrerem atrelados a ela, ocasionando euforia e exagerada segurança, seguida de depressão, dependência e de síndrome de abstinência, alternando tempo de valentia com tempo de covardia. Agora, nos anos 90, a humanidade está drogada, já que existem drogados em todos os setores da sociedade. Não é de admirar que aqueles que permanecem lúcidos fiquem cada dia mais estarrecidos.

A droga não está no submundo, não é coisa só de criminoso, ela está infiltrada em todas as países. Geradora de grandes fortunas mágicas, ela se infiltrou nas elites que traçam os caminhos da sociedade. Deixemos de ser cínicos, ela está entre nós, não podemos mais fechar os olhos para essa realidade que foi criada para ela e que nos impede de viver como nos bons tempos: vivendo por viver.

Sim, houve um tempo em que as pessoas viviam por viver, sern considerar felicidade ou tristeza, perdas ou ganhos, vitória ou derrota, alegria ou sofrimento, tudo isso era vida e havia tempo para viver cada uma dessas situações, assimilá-las e realizá-las sem conflitos maiores, porque vivia-se um dia por vez e ninguém era atropelado por acontecimentos sobressaltantes geradores de ansiedades constantes, enfim, a loucura não estava solta.

Atualmente, todo mundo tem que ser feliz, vitorioso, rico e alegre, determinam-se metas de sucesso constantes, que geram cada vez mais altas expectativas em relação ao destino, seja no campo profissional ou no campo afetivo de auto-estima ou mesmo o do amor. Ora, está tudo errado! Tamanho sucesso não existe na vida comum, desfrutada por mais de 90% dos seres humanos. Logo passou a existir um número sem fim de pessoas frustradas e com isso a inveja prospera e o desejo pela luxúria contemporânea chega a deixar muitas pessoas doentes enquanto corrompe a tantas outras.

Vejam agora o que aconteceu nestes últimos anos no Brasil. Temos vivido nesse ritmo maluco sem previsão nem planejamento, parecendo um país de doidos, se não pudéssemos verificar que o mesmo fenômeno ocorre no resto do mundo. Mais recentemente, pudemos ver o fim que tiveram as expectativas irreais criadas em torno do ministro Fernando Henrique Cardoso, que no curto espaço de um mês teve a sua imagem idolatrada de super-herói esfacelada pelo descrédito, situação que fez ressurgir o fantasma do golpe antidemocrático. Sinto dizer, mas tal situação que fez ressurgir o fantasma do golpe antidemocrático parece coisa de criança birrenta, que fica quebrando o brinquedo novo para ganhar outro, ou pior, de forma masoquista na expectativa do castigo paterno. Graças à bondade divina, as nossas Forças Armadas são sábias e estão cansadas das fúteis suscetibilidades dos filhos da Pátria, preferem deixá-los aprender sozinhos que ter liberdade não é ser libertino e irresponsável.

O ritmo cocaína só tem feito mal ao Brasil. A fome, o crime, a inflação, a recessão e tantos outros males são conseqüências dessa droga, que freqüenta com a mesma naturalidade os salões das elites como os becos sujos das favelas. Não há diferença entre um drogado rico e um pobre, ambos são alienados, não obstante um empresário drogado pode causar mais dano à sociedade que um gari.

Talvez devêssemos parar para pensar, talvez a sucessão de fatos fantásticos e emocinantes não seja necessariamente a certeza de uma vida gratificante, talvez devamos ponderar se uma vida sem tanta explosão de adrenalina pode ser muito mais construtiva e prazerosa. Está em nós mudarmos e dizermos não à loucura. Já vimos que a sociedade cocaína não nos trouxe nada de bom, voltemos a viver por viver, para deixar o Brasil viver tarnbém.

Bia Botana é analista política

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