SEMENTES

Bem Vindos!

Sempre pensei que escrever é semear idéias.
Aqui vocês encontrarão as sementes que eu já plantei,
que germinaram, cresceram, deram flores e frutos.

Esse Blog é a semente dos frutos colhidos há muito tempo,
elas dormiram na escuridão por longos anos
e agora
eu estou a semeá-las novamente...,
para germinarem, crescerem, florescerem...
e um dia darem seus frutos.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

JUSTIÇA DIFÍCIL



Sexta-feira, 11/6/93

Justiça difícil

BIA BOTANA

A vida de uma criança índia vale mais que a de uma criança nordestina? Um nordestino não teria direitos iguais ao índio? Não é o índio um brasileiro? Como explicar então que índios tenham direito a vastas áreas territoriais para sua sobrevivência enquanto tantos outros brasileiros não possuem nem um palmo de terra para plantar um pé de alface que seja? Quero ser índio, já!!!

Sem dúvida, a realidade brasileira de 1988, que permitiu a exacerbação da proteção ao índio na Constituição, não é a mesma que se apresenta nos dias atuais. Com isto, a bandeira indígena, então defendida nos últimos anos com fervor ideológico temerário, conseguindo mobilizar grandes personalidades mundiais em campanhas defensivas dos índios amazônicos e chegou a acaloradas discussões no Senado norte-americano, perdeu sua idéia-força por falta de sustentação justa. Não foi de estranhar que no dia mundial do meio ambiente, no último dia 5 de junho, desta vez os índios nem foram lembrados. É inegável que no momento existem problemas mundiais muito mais sérios.

É difícil, no presente, convencer qualquer consciência justa e equilibrada de que índios tenham mais direitos à sobrevivência que qualquer outro ser humano. Assim como é difícil aceitar que os índios devam ficar limitados nurna reserva sem contato com o mundo civilizado, como se fossem animais num zoológico, não obstante tal medida se justifique como forma de preservar a cultura indígena, assim como a subsistência e perpetuação da raça. Serão eles animais ou seres humanos?

A atitude paternalista de certos antropólogos e ecologistas de condenar os índios ao estado primitivo sem lhes dar a opção de escolha é questionável, pois impede o processo de integração racial característico da evolução humana. A própria história da humanidade narra a convivência, embora nem sempre pacífica, de grupos humanos com características civilizatórias mais avançadas ou mais primitivas num mesmo momento temporal. A narrativa do historiador grego Heródoto sobre os Citas demonstra como sempre existiram grandes diferenças de estágios culturais entre os grupos humanos numa mesma época.

Excluir um ser humano do processo evolutivo e condená-lo a um estado de primitivismo é tão injusto quanto negar-se o direito a alguém de uma educação e formação adequadas ao seu tempo. E negar conhecimento subtraindo informações que permitam seu desenvolvimento e progresso. Se não houvesse havido interação cultural entre os primitivos alamanos e os civilizados rornanos, a atual civilização ocidental não teria surgido.

E de admirar-se que, contrariando a própria natureza, neste século, a interação racial não ocorra, e que, ao contrário, defenda-se a segregação. Como compreender que pessoas que se dizem sectários humanistas não vejam o crime que cometem ao rejeitarem projetos viabilizadores da integração dos índios à civilização contemporânea com cuidada assistência. Talvez não percebam que desta maneira só fazem retardar o curso natural dos acontecimentos, quando não instigando situações geradoras de graves conflitos. É interessante e relevante lembrarmos que, quando os europeus chegaram à África, a população indígena da raça negra encontrava-se em franco processo de extinção. Por ironia da vida, o comércio escravagista pela a América e o extrativismo desenfreado das riquezas minerais africanas é que viriam garantir a sobrevivência da raça negra e o seu recrudescimento.

Ninguém pode afirmar taxativamente que a convivência do índio, em especial das tribos amazônicas, com a raça branca seja uma condenação a um processo de extinção indígena. Ao contrário, poderá até ser a salvação desta raça humana. Está mais do que na hora de repensarmos a questão indígena e passarmos a ver o índio como um ser humano igual a nós e não como um animal em extinção, um ser irresponsável. Temos muito o que aprender um com o outro, hoje, amanhã e sempre.

Bia Botana é analista política

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