SEMENTES

Bem Vindos!

Sempre pensei que escrever é semear idéias.
Aqui vocês encontrarão as sementes que eu já plantei,
que germinaram, cresceram, deram flores e frutos.

Esse Blog é a semente dos frutos colhidos há muito tempo,
elas dormiram na escuridão por longos anos
e agora
eu estou a semeá-las novamente...,
para germinarem, crescerem, florescerem...
e um dia darem seus frutos.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

INDIGNAÇÃO HIPÓCRITA




Quinta-feira 1/4/93

Indignação hipócrita 

BIA BOTANA


As pessoas não sabem o que é a pobreza. Como alguém já o disse, a pobreza é uma doença, que surge do nada e se agarra ao indivíduo, corroendo-lhe a esperança, por não saber dela se livrar. Costumeiramente, falamos da pobreza como se esta fosse surrealista, bem distante da nossa realidade que nos permite comprar um jornal para saber das fofocas e descomposturas de um ex-presidente da República, enquanto para outros o mesmo jornal é um luxo, pois precisam do custo dos míseros trocados para aplacar parcialmente a fome que sentem.

Não, não gostamos de falar da fome alheia, para não nos sentirmos culpados. Mas basta de tanta inconseqüência. Não há mais tempo para indignação hipócrita, urge a hora que nos indignemos com sinceridade contra a crescente miséria que assola o nosso País. Segundoo IBGEPNAD de 1990, a população brasileira é formada por aproximadamente 38 milhões de famílias, destas 2l milhões de famílias são pobres e famintas, 16,7 milhões são de trabalhadores que sustentam os recursos do Estado pagando pesados impostos, e só 300 mil famílias menos que 1 % da população, detêm 52% dos estoques de riquezas da Nação, além de se beneficiarem da não-elaboração da lei complementar do Artigo 153, § VII da Carta de 1988, que instituiria os impostos sobre as grandes fortunas. Assim, somos os campeões mundiais de concentração de riqueza, uma das primeiras economias do mundo, embora sejamos também portadores de um dos maiores índices de pobreza e fome.

O Brasil possui uma das maiores reservas de riquezas do mundo. Só a quantidade exorbitante de minerais e metais seria suficiente para lastrear nossa moeda e torná-la tão forte quanto o dólar. Mas isso não intetessa para os agentes econômicos mundiais. Não obstante possuirmos a maior reserva de quartzo de primeira qualidade, imprescindível à microeletrônica, somos obrigados a exportá-lo por um preço abaixo do custo de produção. Como se não bastasse, somos também os maiores exportadores de cacau, soja, frutas e outros alimentos, e apesar disso morrem de fome 1.500 crianças por dia.

A política sócio-econômica adotada desde 1984, além de ter praticado um genocídio em massa, levou um terço da população brasileira à miséria e proporcionou que o trabalho escravo, só por alimento, se tornasse uma prática comum no País. Em meio a essa atrocidade social dos últimos anos, a comissão mista do Congresso sobre o combate à fome desapareceu, como se o problema não mais existisse. Agora, o presidente ltamar Franco exige a apresentaçâo de programas, em parcos 15 dias, para a erradicação da miséria, programas esses inexistentes. Para se ter uma vaga idéia, um programa desse tipo precisa de no mínimo dois anos para a elaboração de uma pesquisa conscienciosa e mais cinco anos para a sua viabilização. Isto porque é fundamental compatibilizar as necessidades com a produtividade, de maneira a direcionar corretamente os investimentos públicos e privados para que gerem demanda. A análise do potencial gerador de recursos deve ser profunda, levando em conta a valorizaçâo do que o Brasil tem, e não sobre o que ele não tem.

Não foi por mero acaso que 29 milhões de famílias se aglutinaram nas regiões urbanas, onde é encontrado o maior índice de pobreza. O avanço desplanejado da monocultura latifundiária das fazendas industriais sobre as terras férteis, com a produção voltada para a exportação, expulsou os médios e pequ€enos agricultores. Os que resistem praticam uma produtividade de sobrevivência, sem estoques para comercialização. Com isso, o Brasil não produz alimentos suficientes para a demanda interna e nem possui meios de distribuição eficazespara o abastecimento das super populações urbanas.

Não bastará uma reform agrária, será preciso dar estrutura para devolver as famílias ao campo, e isso levará tempo e dinheiro. Será preciso lutar contra os interesses econômicos internacionais, que sustentam a economia oligárquica do País. Precisamos não deixar que a fome seja usada como uma arrna para nos subjugar a um neocolonialismo. O Brasil é nosso, são nossas as suas riquezas!

Bia Botana é analista político 

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