SEMENTES

Bem Vindos!

Sempre pensei que escrever é semear idéias.
Aqui vocês encontrarão as sementes que eu já plantei,
que germinaram, cresceram, deram flores e frutos.

Esse Blog é a semente dos frutos colhidos há muito tempo,
elas dormiram na escuridão por longos anos
e agora
eu estou a semeá-las novamente...,
para germinarem, crescerem, florescerem...
e um dia darem seus frutos.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

FORA DE MODA



Quarta-feira, 2/6/1993

Fora de moda

BIA BOTANA

Se uma pessoa desejar experimentar a sensação de ser estúpida nestes dias, basta tão-somente ser honesta. Mas é lógico que ninguém gosta de se sentir estúpido, não obstante este seja um sentimento cada vez mais costumeirol não há quem não o experimente pelo menos uma vez ao dia, não sendo preciso ir muito longe. Para vivê-lo é só colocar a mão na carteira para fazer qualquer tipo de pagamento e a sensação de se estar sendo logrado de alguma forma virá imediatamente e será inevitável.

Assim também, ficar indignado porque pisaram a bandeira nacional ou defender a soberania territorial brasileira, por serem atitudes patrióticas inusitadas, permitirá acusações desconcertantes e a rotulação de nacionalistas, em seu sentido pejorativo, àqueles incautos que ainda ousam amar o solo pátrio, uma atitude de tolos e idiotas.

Por essas e por outras, é impossível não sentir-se uma certa nostalgia da moral de tempos passados, pois os valores que eram moda na aurora deste século se tornaram "fora de moda" neste seu momento de crepúsculo. Não, não nasci na época vitoriana, nem conheci o rufar das trombetas das disputas imperialistas, muito menos conheci a exaltação do nacionalismo. Para espanto de muitos, pertenço à chamada geração "baby-boom". nasci no meado da década de 50, alguns anos após a exploração da bomba atômica, num mundo dividido entre leste-oeste, capitalismo-comunismo, EUA-URSS, portanto, nasci apavorada sabendo que também poderia ser explodida a qualquer hora, de qualquer dia da minha vida.

A geraçào "baby-boom" também é a geração "rock-and-roll". E aquela que resolveu derrubar todas as barreiras, que disse que era proibido proibir, usou como "slogan" as palavras paz é amor, defendeu o amor livre e a tal amizade colorida, assim como inaugurou o "casa-separa". Foi também a geração do jeans-tênis-camiseta, dos costumes orientais, do "baseado" (weed) e outras drogas mais, da alimentação macrobiótica, do naturalismo e dos primeiros ecologistas, entre outras coisas. Uma geração "animal", como dizem os jovens de hoje, que desejou mudar o mundo como tantas outras, mas fez algo incrível e fantástico: fez uma mudança de l80 graus em todos os sentidos civilizatórios, principalmente no que tange aos costumes e ao aspecto moral. Tudo bem, tem que se reconhecer que foi um grande feito, mas o que fará essa geração  com o mundo caótico que criou?

Acredito que alguns como eu olhem para seus cabelos brancos e, com algum desespero, assumam a sua parte de responsabilidade com o mundo que está aí, e desejam, por isso, resgatar algo que inexplicavelmente foi deixado para trás: os valores que sempre sustentaram as bases sociais e garantiram assim a sobrevivência humana por milênios. Esses valores sempre caracterizaram a humanidade e distanciaram o ser humano de sua condição animal, assim como o diferenciaram dos outros seres vivos, e são: a solidariedade, a hombridade e a dignidade. A partir desses valores é que se erguem todos os outros valores humanos que permitiram a existência de mais de seis mil anos de civilização.

Esses valores podem ter sido esquecidos, chegaram até a ser considerados fora de moda, como o são hoje, fato este que não devia ter acontecido. É nossa obrigação tomarmos providências urgentes, nós que fomos tão vanguardistas, tão revolucionários, nós que tivemos a temeridade de quebrar leis e tradições; nós agora devemos ser intrépidos como no passado erguermos sem tardança um panteão a esses três valores humanos virtuosos, para que jamais venham a ser esquecidos por outras gerações, nem desconsiderados como o foram pela nossa.

Não podemos permitir que se prossiga nessa perda de valores cada vez mais dramática, que poderá comprometer, com a violência e o crime, o futuro da sociedade humana. Não existe vergonha em se reconhecer um erro, vergonha haverá em não corrigi-lo.

 Bia Botana analista política

Um comentário:

  1. No fundo, o problema do Brasil e do mundo é a crise de valores, que fez emergir o materialismo e egoísmo, ambos vírus mortais para a família e, daí, para a humanidade. As consequências são piores em sociedades imaturas como a brasileira.

    A decadência romana tem muito a ver com a perda dos valores da república e o advento do império com a supervalorização do poder. A demora na decadência se deveu a não haver rivais à altura e à distância entre o povo e as elites corrompidas, o que preservou por mais tempo o Império, algo que não ocorre mais no mundo contemporâneo.

    Muito bom o texto.

    General da Reserva Luiz Eduardo Rocha Paiva

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