Jornal de Brasília
Quarta-feira, 21/9/94
Como analista política não poupei
críticas ao Presidente ltamar Franco, do mesmo modo, agora, eu também reconheço
seu mérito; primeiro no recente episódio do embaixador Ricupero, Por saber
contornar com inegável diplomacia política a crise aberta no Governo e em
segundo, por, com esta habilidade assegurar sua passagem para a História do
Brasil, como o único Presidente que se propôs a fazer seu sucessor dentro do processo
democrático, contrariando em ambos os casos as expectativas de seus
observadores.
Apesar de existirem outros
presidentes sucedidos por pessoas integrante do seu governo como: Floriano
Peixoto que sucedeu Deodoro da Fonseca (1891); Venceslau Brás, que como
candidato único herdou a presidência de Herrnes da Fonseca em clima conflituoso
(1922) e Gaspar Dutra, ex-Ministro da Guerra, contou com o apoio político de
Vargas na tumultuada eleição de 1945, contudo, em 105 anos de democracia nenhum
presidente preparou seu sucessor eleições démocráticas como está fazendo
Itamar.
A admirada primeira democracia
contemporânea dos Estados Unidos da América, com um século a mais de exercício
que a nossa desde que George Washington assumiu a presid6encia em 1789, conta
com um número significativo de presidentes que foram forjados por seus
antecessores, num processo de continuidade política que com certeza vem sendo o
motivo ào espantoso sucesso democrático norte-americano.
Dos 4l presidentes dos EUA, 14 serviram
o governo como vices (John Adams,
Jefferson, Van Buren, Tyler, Filmor, Andrew Johson, Arthur, Theodore
Roosevelt, Coolidge, Truman, Lindon B. Johnson, Nixon, Ford e Bush). Oito eram
membros do gabinete: quatro secretários de Estado (Madison, Monrce, John
Quincy, Adams e Buchana); dois secretários de Guerra (Grant e Taft); um secretário
do Comércio (Hoover) e um embaixador (Harrison). Portanto, 22 presidentes, a
maioria, estavam ambientados ao Poder Executivo e preparados para assumi-lo, e,
sobretudo, foram eleitos pelo povo.
No Brasil Republicano, dos 31
presidentes só 13 foram eleitos pelo voto (Prudente, Campos Salles, Rodrigues
Alves, Afonso Pena', Hermes, Venceslau Brás, Washington Luiz, Outo, Vargas,
Kubitschek, Jânio e Collor). A democracia brasileira é entrecortada por crises
que geraram ditaduras e ofensivo tutelamento do Estado paternalista, que
tratava o povo tal qual criança, quando conveniente, privando-o de sua
cidadania. Mas o povo cresceu e amadureceu, prova dlsto é o apoio recebido por
Fernando Henrique Cardoso.
A possível vitória de Fernando
Henriqüe será na verdade o reconhecimento popular de que ltamar Franco, apesar
de suas falhas, conseguiu levar a desastrosa herança recebida de Collor a um
bom termo e que apesar dos pesares realizou um governo satisfatório, cuja
direção mereceu um voto de confiança e continuidade.
O brasileiro demonstra assim que
não quer mais mudar por mudar, que deseja estabilidade e segurança para prever
o seu futuro e que continuísmo político
talvez não seja tão ruim.
ltamar passa para História como um
marco que permite sonhar com a plenitude democrática futura. Por fim, nós
estamos aprendendo a ser democratas.
Vitorioso Fernando Henrique, vitorioso será Itamar, vitorioso o Brasi,
vitória de nós brasileiros.
Bia Botana é analista política