SEMENTES

Bem Vindos!

Sempre pensei que escrever é semear idéias.
Aqui vocês encontrarão as sementes que eu já plantei,
que germinaram, cresceram, deram flores e frutos.

Esse Blog é a semente dos frutos colhidos há muito tempo,
elas dormiram na escuridão por longos anos
e agora
eu estou a semeá-las novamente...,
para germinarem, crescerem, florescerem...
e um dia darem seus frutos.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

ITAMAR E A HISTÓRIA




Jornal de Brasília

Quarta-feira, 21/9/94

 Itamar e a história


 BIA BOTANA


Como analista política não poupei críticas ao Presidente ltamar Franco, do mesmo modo, agora, eu também reconheço seu mérito; primeiro no recente episódio do embaixador Ricupero, Por saber contornar com inegável diplomacia política a crise aberta no Governo e em segundo, por, com esta habilidade assegurar sua passagem para a História do Brasil, como o único Presidente que se propôs a fazer seu sucessor dentro do processo democrático, contrariando em ambos os casos as expectativas de seus observadores.

Apesar de existirem outros presidentes sucedidos por pessoas integrante do seu governo como: Floriano Peixoto que sucedeu Deodoro da Fonseca (1891); Venceslau Brás, que como candidato único herdou a presidência de Herrnes da Fonseca em clima conflituoso (1922) e Gaspar Dutra, ex-Ministro da Guerra, contou com o apoio político de Vargas na tumultuada eleição de 1945, contudo, em 105 anos de democracia nenhum presidente preparou seu sucessor eleições démocráticas como está fazendo Itamar.

A admirada primeira democracia contemporânea dos Estados Unidos da América, com um século a mais de exercício que a nossa desde que George Washington assumiu a presid6encia em 1789, conta com um número significativo de presidentes que foram forjados por seus antecessores, num processo de continuidade política que com certeza vem sendo o motivo ào espantoso sucesso democrático norte-americano.

Dos 4l presidentes dos EUA, 14 serviram o governo como vices (John Adams,  Jefferson, Van Buren, Tyler, Filmor, Andrew Johson, Arthur, Theodore Roosevelt, Coolidge, Truman, Lindon B. Johnson, Nixon, Ford e Bush). Oito eram membros do gabinete: quatro secretários de Estado (Madison, Monrce, John Quincy, Adams e Buchana); dois secretários de Guerra (Grant e Taft); um secretário do Comércio (Hoover) e um embaixador (Harrison). Portanto, 22 presidentes, a maioria, estavam ambientados ao Poder Executivo e preparados para assumi-lo, e, sobretudo, foram eleitos pelo povo.

No Brasil Republicano, dos 31 presidentes só 13 foram eleitos pelo voto (Prudente, Campos Salles, Rodrigues Alves, Afonso Pena', Hermes, Venceslau Brás, Washington Luiz, Outo, Vargas, Kubitschek, Jânio e Collor). A democracia brasileira é entrecortada por crises que geraram ditaduras e ofensivo tutelamento do Estado paternalista, que tratava o povo tal qual criança, quando conveniente, privando-o de sua cidadania. Mas o povo cresceu e amadureceu, prova dlsto é o apoio recebido por Fernando Henrique Cardoso.

A possível vitória de Fernando Henriqüe será na verdade o reconhecimento popular de que ltamar Franco, apesar de suas falhas, conseguiu levar a desastrosa herança recebida de Collor a um bom termo e que apesar dos pesares realizou um governo satisfatório, cuja direção mereceu um voto de confiança e continuidade.

O brasileiro demonstra assim que não quer mais mudar por mudar, que deseja estabilidade e segurança para prever o seu futuro e que continuísmo político  talvez não seja tão ruim.

ltamar passa para História como um marco que permite sonhar com a plenitude democrática futura. Por fim, nós estamos aprendendo a ser democratas.  Vitorioso Fernando Henrique, vitorioso será Itamar, vitorioso o Brasi, vitória de nós brasileiros.

Bia Botana é analista política

terça-feira, 13 de novembro de 2012

O PACIFICADOR





Jornal de Brasília

Quarta-feira, 25/8/94

O pacificador

BIA BOTANA

Em 25 de agosto de 1803 nascia, no Rio de Janeiro, Luiz Alves de Lima e Silva. Sua memória nos traz a lembrança de um verdadeiio brasileiro. Dedicado ao serviço da Pátria, Duque de Caxias, título com o qual passou para história do Brasil, se tornou um arquétipo da vontade férrea e foi adotado como alcunha popular, que define um "Caxias" como alguém cumpridor fiel e inabalável dos deveres.

Símbolo de nacionalidade, a brasilidade de Caxias consagrou-se na luta pela consolidação da independência e como assegurador da unidade e da paz nacional. Contudo, seu lado mais humano não se revelou nos campos de batalha ou como ministro da Guerra, mas sim no seu exercício político tão pouco divulgado. Admirado e reconhecido no seu caráter, no respeito à lei e ordem e seu culto pelos valores nacionais, o cidadão Luiz Alves de Lima e Silva não só foi presidente do Conselho de Ministros por tr€ês vezes como também deputado pelo Maranhão, senador pelo Rio Grande do Sul e conselheiro de Estado.

Como cidadão reconhece-se em Caxias uma brilhante integridade, que significa dizer a verdade, cumprir as promessas e assumir a responsabilidade pelos erros cometidos, uma questão de ser o que se alega ser, de fazer o que se diz que fará. Tal comportamento incomum no meio político trouxe a Caxias os maiores sofrimentos motivados pela sordidez dos embates políticos e a conquista de inimigos gratuitos. A mesquinharia, a maldade e a intriga que vicejam no campo político se revelaram a Caxias mais letais que o fio da espada e mais poderosas que as armas de fogo de seus adversários no campo de batalha.

A luta política de Duque de Caxias foi tão grandiosa quanta a desempenhada na área militar, entretanto, esta não o cobriu de glória nem lhe rendeu os louros da vitória, todavia, o transformou num exemplo único de lealdade à Nação, mesmo nos momentos que esta não lhe foi reconhecida, um exemplo aliás que deveria nos servir.

Caxias, o pacificador, sempre deverá ser lembrado, jamais esquecido. Neste momento tão importante ao País, cada um de nós brasileiros deveríamos incorporar uma pequena chama que fosse de seu espírito conciliador e com a mesma coragem lutar pelo Brasil.

A vitória do Tetra (Copa do Mundo) e a estabilidade oferecida pelo real (nova moeda brasileira) deram início a um momento de reversão nacional para a reconquista da auto-estima brasileira. As próximas eleições poderão consolidar este sentimento se formos "Caxias" e nos conscientizarmos da importância da integridade do nosso voto, onde uma escolha bem pensada, evitando que o voto seja um instrumento de barganha e comércio, poderá também reverter o quadro político nacional.

Neste momento é preciso valorizar sobretudo a nossa participaçâo como cidadãos quanto ao destino do País, sermos capazes de colocar a Nação acima das nossas aspirações pessoais e pensarmos que o bem de muitos vale mais que o benefício de alguns poucos. Se é preciso, façarnos todos um sacrífico, pois não é hora mais de defesa de privilégios isolados.

Nada teremos a temer por adotar o exemplo de Duque de Caxias, ao contrário, só ganharemos se agirmos como pacificadores usando nossa cidadania como deve ser usada, não só na sua condição de direitos e reivindicações, mas também quanto aos deveres implícitos. Como Caxias, é o tempo de cumprirmos nossos deveres para com a Pátria, mais do que nunca devemos servi-la e reerguê-la com um trabalho incansável e íntegro. A cidadania não foi feita para ser negociada, mas sim para ser vivenciada, esse é o legado que Caxias nos deixou, vamos honrá-lo.

Bia Botana é analista política