SEMENTES

Bem Vindos!

Sempre pensei que escrever é semear idéias.
Aqui vocês encontrarão as sementes que eu já plantei,
que germinaram, cresceram, deram flores e frutos.

Esse Blog é a semente dos frutos colhidos há muito tempo,
elas dormiram na escuridão por longos anos
e agora
eu estou a semeá-las novamente...,
para germinarem, crescerem, florescerem...
e um dia darem seus frutos.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

ALGO ESTÁ ERRADO



Quinta-feira, 20/5/93

Algo está errado

BIA BOTANA

Se fixarmos nossa atenção no cotidiano das principais manchetes jornalísticas do País, poderemos fazer uma coletânea dos maus hábitos adquiridos pelos homens contemporâneos que se dedicam à vida pública. Não é de espantar que esses personagens constituam a classe mais desacreditada de todas as sociedades do planeta. Este fato merece toda a nossa atenção, pois nos permite verificar que a presente crise política brasileira, responsável maior por todos os outros males que atingem a Nação, possui seu tempo e lugar no processo histórico mundial, como se comprova na Itália, Rússia, Espanha e França, onde não faltam casos escandalosos sobre o mau uso dos bens Públicos.

Neste final de milênio, termo que insisto em usar, apesar de algumas pessoas me considerarem dramática, se contesta e se analisa não só o comporlamento surrealista dos homens públicos e líderes políticos, mas também a moral sobre a qual se alicerçam os códigos penais, que limitam e punem um indivíduo através da aplicação das penas da lei que restringe a liberdade de cada sociedade, segundo os seus cosfumes e cultura. A íntima relação existente entre a cultura de uma sociedade e suas leis determina os valores morais dela dentro de um período temporal e por conseguinte a sua história. Por exemplo, de acordo com o antigo livro chinês das Transmutações, o "I Ching", o ganho por meios censuráveis, desde que não tragam prejuízos a outras pessoas e cuja ação esteja impregnada de sinceridade, não envolve culpa nem erro (Hexagramas 41 e 42). Tal moral veio a despertar em Confúcio um comentário sobre aquela tradição de que "o fato de se conseguir alguma coisa por meios condenáveis pode levar à suposição de que tais meios são naturais". Ora, mas não foram só os sábios orientais que admitiram que a corrupção faz parte da natureza humana a ponto de em determinados momentos se confundir com uma virtude. A própria Bíblia é um prato cheio de atos corruptos inexplicavelmente abençoados pelo deus dos hebreus Iavé. Caso típico é o do pobre Esaú, que foi duramente ludibriado por Jacó, seu esperto irmão gêmeo, que lhe roubou descaradamente a progenitura, como está descrito no livro do Gênesis, e cujo comportamento, de Jacó, é considerado correto por muitos crentes e justifica muitas das atitudes pouco dignas dos seguidores da moral judaico-cristã que rege a maior parte da moralidade atual.

Algo está muito errado no momento em que o Congresso de uma país como os Estados Unidos aprova uma lei que permite o "rapto" de qualquer individuo em solo estiangeiro se este for considerado inimigo dos EUA, e todos países do planeta aceitam o fato mudos, sem protestar. Algo está muito errado quando grandes banqueiros mundiais não questionam a origem dos volumosos depósitos em seus cofres. Afinal, ainda não existem cães farejadores para distinguir as criminosas fontes de dinheiro, e tudo é uma questão de usar a "lavanderia" certa... Assim, o FMI, mesmo não sendo de todo impoluto, pode intervir de maneira chantageosa e cínica sobre os chamados países de segunda classe como arauto da moralidade econômica. Algo está mais errado ainda quando sabemos de tudo isso e acabamos aceitando como coisa natural. Está errado, sim, é não vermos que o mundo já não é o mesmo e que o materialismo do poder econômico se tornou de tal forma grandioso que também determinou uma nova moral cujas leis não estão contidas em nenhum código penal. Esse é um mundo cão onde o poder do dinheiro torna um indivíduo acima da lei e lhe permite considerar o resto da humanidade imbecilizada.

A corrupção e o uso indevido dos bens públicos são crimes tão grandes quanto o latrocínio e o assassinato, por lesarem uma população, podendo ocasionar até o genocídio, como no Brasil. Não se pode banalizar o mal. A atual onda de crimes públicos não é só um problema a ser resolvido com severidade penal, mas é sobretudo um sintoma alarmante de uma sociedade viciada e doente, cuja cura ainda não foi descoberta.

Bia Botana é analista política

Um comentário:

  1. O País padece de grave enfermidade moral na sociedade e em sua liderança, com prejuízo da coesão nacional necessária para enfrentar os desafios que virão, exatamente por sua inserção no cenário dos conflitos globais. A liderança é patrimonialista, amplamente corrompida nos Poderes da República e em outros setores da vida nacional e se apodera dos bens públicos como se fossem de sua propriedade. Apoia-se em sua impunidade e na omissão de uma sociedade sem esperança na justiça, ela própria assumindo a falta de ética e valores. Nação carente de exemplos, que trocou referenciais nobres pelos do padrão “big brother brasil” e, anestesiada, contenta-se com uma falsa noção de liberdade, que usa sem responsabilidade e disciplina, tornando-a um bem ilusório. Agoniza a Lei Moral, condição de grandeza!
    (o comentário, com atualizações, tem por base artigo publicado na Revista do Clube Militar - outubro de 2011 - do General da Reserva Luiz Eduardo Rocha Paiva).
    General Rocha Paiva

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