SEMENTES

Bem Vindos!

Sempre pensei que escrever é semear idéias.
Aqui vocês encontrarão as sementes que eu já plantei,
que germinaram, cresceram, deram flores e frutos.

Esse Blog é a semente dos frutos colhidos há muito tempo,
elas dormiram na escuridão por longos anos
e agora
eu estou a semeá-las novamente...,
para germinarem, crescerem, florescerem...
e um dia darem seus frutos.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

HOJE JÁ É AMANHÃ




Quarta-feira, 8/9/93

Hoje já é amanhã

BIA BOTANA

Idéia da sempre vanguardista Rita Lee, "hoje já é amanhã" se fez título perfeito a essa curta meditação sobre a instauração da nova ordem na desordem mundial perto do século XXI. No não tão distante século XIX, a industrialização deu origem à tecnologia: "estudo dos instrumentos, processos e métodos empregados nos diversos ramos industriais". O investimento empresarial para invenção de novos produtos era certeza de lucro e garantia do sucesso econômico de um país. Esse pensamento se mostraria correto e sustentaria a vantagem competitiva no mercado internacional de britânicos, norte-americanos e alemães até meados da segunda metade do século XX, quando, nos anos 70, os japoneses, grandes investidores em novos processos de fabricação, com€eçaram a produzir bens e serviços mais depressa, mais barato e melhor.

Nos anos que se seguiram, o exemplo japonês foi adotado pelos chamados "Tigres Asiáticos", deflagrando uma grandiosa revolução tecnológica que veio desembocar nos anos 90, atrelada a uma gigantesca transformação geopolítica mundial, sob a forma de uma guerra econômico-comercial sem precedentes nesta era, só comparável à travada na Antigüidade, pelo domínio do Mediterrâneo, por romanos, cartagineses, fenícios e gregos.

O atual conflito mundial vem definindo outra divisão bilateral contemporânea: de um lado, estão os países com novas técnologias de produto, e do outro estão os que dominam as novas tecnologias de processo. Em meio ao feroz confronto, estão os desconsiderados e insignificantes países extrativistas –ricos em matéria-prima e mão de obra barata e desqualificada –, que estão fadados ao inevitável domínio econômico de um ou de outro grupo poderoso detentor do maior bem do seculo XXI, a tecnologia.

Não é preciso ser nenhum gênio para verificar que o Brasil perdeu o bonde da história. Mas por quê? Simples, o povo brasileiro não se caracteriza por ser prático, realista e racional, não obstante possua uma notável inteligência para a lei do mínimo esforço, ou para correr atrás de sonhos utópicos e passionais. Não é de se admirar, portanto, o descompasso do brasileiro com os acontecimentos internacionais, que o faz adotar modelos culturais alheios em detrimento do seu próprio modelo, o que o faz despersonalizado e incapacitado para constituir uma nação.

Em 1977, a política externa adotada pelo presidente dos EUA, o democrata Jimmy Carter, respaldada na defesa dos direitos humanos, condenou o Brasil à condição extrativista, boicotando a transferência de tecnologia, colocando um fim à colaboração norte-americana existente até então, e também ao milagre brasileiro. Chegaram as dificuldades econômicas acompanhâdas de um delírio político-social crescente. O processo de desenvolvimento foi interrompido, os investimentos em pesquisa, educação e treinamento de mão de obra tiveram queda drástica, ao passo que em outros países investia-se maciçamente em busca de tecnologia própria. Os brasileiros lutavam por liberdades democráticas enquanto outros sacrificavam suas liberdades em nome de seus países.

Para uma geração inteira de brasileiros, o hoje já é amanhã, um amanhã que chegou e fez do presente mísero infortúnio. E preciso que deixemos de sonhar com a prosperidade gratuita e passemos a produzi- la, pois, de tanto sonhar com distribuição de riquezas, tem-se só distribuído pobreza. E certo que ainda há tempo para a inteligência brasileira dar seus melhores frutos, é tudo uma questão de esforço e dedicação, os mesmos que são empregados para sustentar essa orgia inflacionária de ilícitos enriquecimentos, que só fazem comprometer a futura soberania do País dentro da nova ordem mundial.

Bia Botana é analista política

A CULTURA DO GOLPE



Quarta-feira, 1/9/93

A cultura do golpe

BIA BOTANA

O Brasil está andando no fio da navalha. só quem é cego não vê que tem algo errado acontecendo no País. E difícil determinar quando começou o mal, mas se tornou evidente após o plebiscito, quando se abriram as discussões sobre a revisão constitucional.

O caldo golpista se fez anunciar nos primeiros dias de maio com cara de extrema direita ao som de protestos militares. Veio junho com o 8" Encontro Nacional do Partido Trabalhista (PT) em Brasília. A vitória dos "xiitas" esquerdistas sobre os social-democratas delineou o PT como partido de extrema esquerda. socialista do chamado "socialismo real", disposto a "tencionar e esgarçar os limites da ordem existente", acentuando o aspecto revolucionário. Chegou julho e as bandeiras começaram a ser levantadas, tanto pelos saudosistas do esquema militar, quanto pelos que desejam ressuscitar o velho "socialismo real" enterrado peia Europa. Nada foi mais abismante do que poder constatar a perda de identidade dessas facções antagônicas ao adotarem o mesrno discurso.

O triste acontecimento da Candelária foi o estopim, o momento de ruptura que permitiu agosto chegar anunciando o "Golpe Branco", que passaria pelo Congresso Nacional com a possível renúncia de Itamar Franco. Enquanto isso, a questão da revisão constitucional já se mobilizava, agindo corno um divisor de águas. Agosto mês de doido, razão possível à inesperada "histeria indígena", tão bem descrita pelo jornalista Jorge Oliveira, que atingiu autoridades e a mídia. O massacre fantasma dos yanomami foi a explosão da cultura do golpe, atingindo um contexto internacional sem precedentes.

Em meio à fúria indigenista passou despercebida a presença, na última semana de agosto, do diretor-geral da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), Hans Blix, que veio pedir ao Brasil que se comprometa com o acordo que estabelece o uso exclusivo de energia atômica para fins pacíficos, isto é, que se submeta ao monitoramento vigilante da AIEA e jogue fora sua independência tecnológica nuclear. Curioso é saber que o Brasil vem desenvolvendo, com sucesso, inúmeros projetos nucleares, entre eles o do ciclo do combustível a partir do urânio, o qual, por coincidência, pode ser encontrado, em abundância, numa das maiores reservas mundiais. nas terras demarcadas dos Yanomami. Curioso, sim, muito curioso. É como se estivéssemos montando um quebra-cabeça.

Uma outra peça perdida desse enigma é a da CPI da Privatização, onde o relator. o senador Amir Lando (PMDB-RO), não escondia de ninguém, a semana passada, o seu desespero por não conseguir denunciar à mídia as falcatruas que estão sendo praticadas. Ninguém quer ouvi-lo, por quê? Porque não interessa ao "grande irmão" como interessou o impeachment.

Estamos em setembro, o caldo engrossou; o que parecia ser sandice está virando cultura golpista, que abriga a cada dia um maior número de histéricos fanáticos, que, apesar de opostas ideologias, convergem para um único propósito. Eles não escondenr mais que conspiram e instigam contra a atual ordem. Estão infiltrados como vermes traiçoeiros na sociedade e a minam em sua já frágil segurança.

A quem interessa tudo isso que está acontecendo? Quem vai lucrar com o caos? A direita, a esquerda, que no Brasil continuam inabaláveis, ou o poder estrangeiro? Afinal, quem é o inimigo?

Precisamos urgentemente de respostas antes que cheguemos à beira do precipício, de onde não haverá mais volta.

Bia Botana é analista política

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

EXÉRCITO EM AÇÃO



Quarta-feira, 26/8/93

Exército em ação

BIA BOTANA

Devido às comemorações da Semana do Exército e do Dia do Soldado (25/08), não podemos nos furtar de fazer algumas considerações relevantes sobre a força terrestre, que nos últimos anos passou a desenvolver atividades constitucionais e complementares que nem sempre são devidamente divulgadas ou bem interpretadas.

A conjuntura brasileira tem imposto limitações que exigiram do Exército redimensionar suas prioridades e estabelecer novas metas para aumentar a sua operacionalidade. Investiu-se no aperfeiçoamento dos recursos humanos, ou seja, na profissionalização, num esforço contínuo para aliar conhecimento e tecnologia. O resultado obtido pode ser encontrado no sucesso de vários projetos, seja na área bélica, como de instrução de guerra eletrônica e de aviação do Exército; seja na cooperação comunitária, onde constam programas de mutirões voluntários para a construção de casas populares, combate emergencial à seca, apoio ao menor desassistido, atendimento médico-odontológico aos carentes; seja em programas econômicos de infra-estrutura, como construção, reparação e conservação de rodovias e ferrovias, construção de instalações fixas, implantação de microusinas hidrelétricas nos Pelotões de Fronteiras na Amazônia, identificação de aquartelamento em regiões remotas e outras ações de relevo.

Além do exposto, devemos sobretudo admirar no Exército, assim como nas forças co-irmãs, o total respeito prestado aos ditames constitucionais, tão realçado por ocasião do impeachment. A madura segurança da defesa da lei, da ordem e das instituições democráticas ofertada pelas Forças Armadas, naquela ocasiâo, foi que permitiu atravessarmos um conflito interno grave sem que esse alcançasse proporções desastrosas.

O Exército brasileiro tem demonstrado estar em perfeita sintonia com as aspirações populares. Em meio à grave crise de credibilidade, sua atitude ética consagra-o com elevado índice de confiança, atestado por pesquisas junto à opinião pública. Não é por acaso que hoje distintos segmentos da sociedade reconheçam no Exército uma instituição sólida, cujos serviços prestados asseguram sobrepujar a adversidade presente com lucidez e tranqüilidade, a despeito de certas minorias impatriotas, que buscam comprometer os direitos de cidadania. as instituições políticas, econômicas e sociais com idéias golpistas fomentadoras da desobediência civil.

A dupla missão constitucional atribuída às Forças Armadas - contra o inimigo externo, que ameaça a soberania e a integridade do território, e contra aqueles que, no interior do País. perturbem a ordem ou afrontem os poderes constitucionais e o respeito à lei - é, por si só, uma árdua tarefa, um compromisso que não permite a crise existencial por vezes propalada. As Forças Armadas não precisam andar à busca de inimigos para justificar a missão que possuem. pois, como já foi dito, a presença de uma população pobre sobre uma terra rica já é motivo suficiente de preocupação.

Assim, enquanto o valoroso Exército brasileiro, tendo por patrono Duque de Caxias, estiver de pé em defesa da Nação unido neste ideário às Forças co-irmãs, é certo que poderemos responder aos desafios da nossa época e construir um sólido futuro. Se porventura ocorresse o contrário, aplicar-se-ia a idéia de que "quem não defende o que é seu está defendendo interesses de outros". E lógico que ninguém quer um Brasil colônia, ou será que quer?

Bia Botana analista política

OPOSIÇÃO IRRESPONSÁVEL



Quarta-feira, 18/8/93

Oposição irresponsável

BIA BOTANA

Está mais do que na hora de aqueles que se opôem ao governo Itamar Franco pararem para pensar até que ponto suas críticas têm fundamento verídico ou ideológico. O certo é que, em comparação a tempos passados, hoje é possível viver e trabalhar em condiçôes muito mais satisfatórias. Já houve tempos piores, as coisas estão melhorando, apesar de tudo, em especial da viciosa especulação de alguns. A "neura" oposicionista também tem tornado o exercício do Governo difícil. O funcionalismo público - lembrando que em sua maioria filiado ao PT (Partido dos Trabalhadores) - vive o clima de "fim de festa", e não está nem aí para a eficiência do seu trabalho. Por outro lado, não vendo mais razão para esconder suas preferências políticas, dissimuladamente dá vazão a um processo de sabotagem do mecanismo governamental, sem a menor preocupação com as consequências desastrosas que tal açâo pode trazer ao País.

Como se não bastasse, o Congresso tem se revelado um parceiro amargo do Planaito. Em vista das próximas eleições, senadores e deputados estão colocando os interesses pessoais acima dos interesses nacionais. A fogueira de ambições também atinge ministros de Estado e governadores. Os partidos ardem mais de paixão pelo poder do que pela paixão ideológica, esta praticamente inexistente. Dessa maneira, pregadores da democracia articulam um golpe velado contra o governo Itamar em detrimento dos compromissos assumidos com o povo. Assim, flagrando o atual governante em seus erros, esperam construir os degraus que galgarão o poder. Impatriotas, eis o que são tais indivíduos! Só causam repúdio.

A crítica quando construtiva é sempre bem-vinda; de outro modo, é despojada de mérito virtuoso. Dizer, por exemplo, que a designação de verbas aos projetos de proteção à Amazonia e fomentar a militarização da região é pura besteira, pois para militarizar a Amazônia seria necessário todo o contingente efetivo das Forças Armadas, e mesmo assim o índice demográfico contlnuaria baixo.

A recente reunião do Conselho de Defesa Nacional - primeira no governo Itamar e segunda desde a sua criação na Constituição de l988 -, deu ao Presidente a oportunidade de demonstrar uma postura madura ao avocar para si as medidas a serem tomadas em prol da defesa nacional, dando resposta imediata ao risco de intervençâo da ONU manifesto nos primeiros dias de agosto, em Genebra, com a formulação de um projeto que concede autodeterminação aos povos indígenas. Amarrada equivocadamente pela Constituição de 1988, em seu Art. 231, a região Amazônica foi imobilizada sob uma pseudotutela indígena controlada pelo Congresso Nacional, salvo unicamente por decisão presidencial, a qual deve ser respaldada pelo Conselho de Defesa Nacional (Art. 9l). O presidente Itamar Franco, ao afirmar que o controle da Amazônia é de alçada soberana do Brasil", tomou uma decisão internacional firme e livre de equívocos, atitude esta, que nunca foi adotada por seus predecessores, que de uma forma ou de outra sempre usaram a Amazônia como moeda de barganha.


Essa atitude do presidente Itamar demonstrou uma nova disposição, mais decidida e de pleno exeicício de Governo. Resta nos parabenizar tal gesto e fazermos votos de que outros se sigam, de forma a colocar um fim ao tempo de perguntar, a quem não é Governo, o que fazer. Um novo tempo que cale em definitivo a boca da oposição irresponsável. Só assim, assumindo a Presidência em toda sua plenitude, Itamar Franco conseguirá, como pretende, conduzir o país às eleições de 1994, quando todos nós esperamos, por fim, através do voto, "passar o Brasil a limpo". É certo que nós não cairemos no conto do golpe, que em verdade só favoreceria os maus políticos - conhecemos a herança de 1964. Vamos em frente, Presidente, com sorte e perseverança chegaremos lá.

Bia Botana é analista política

PATRIOTISMO EM CRISE



Quarta-feira, 11/9/93

Patriotismo em crise

BIA BOTANA

Quando alguém que tem acesso a um veículo de comunicação diz: "... que essa história de patriotismo (ainda mais de chuteiras) não é mesmo o meu forte", é que estamos frente a uma séria crise de valores morais. É portanto justo que nos perguntemos se não será esta crise moral a única causadora de tantos infortúnios na sociedade brasileira nos últimos anos.

Patriotismo não é doutrina nem ideologia, como o nacionalismo; designa apenas o saudável amor à Pátria, sendo que o patriota não é unicamente aquele que ama a sua Pátria, mas também aquele que se esforça em ser-lhe útil. No passado, nos obscuros anos 70, havia muitos patriotas brasileiros. Eram patriotas tanto os que acreditavam no lema "Brasil, ame-o ou deixe-o", assim como eram patriotas os cassados, banidos, exilados no primeiro mundo, fosse pela força da lei, fosse por um auto-exílio ideológico. Era um tempo em que todos lutavam, de uma maneira ou de outra, certo ou errado, por um futuro melhor para o Brasil. Hoje ficou mais fácii amar Miami do que o nosso esdrúxulo País.

Naquele tempo do "ame-o ou deixe-o", as Forças Militares foram convocadas, pela classe média apavorada, para o exercício de funções políticas comprometidas com o governo do País. Apesar da alcunha de ditadura militar, o Congresso Nacional não foi fechado - sofrendo apenas alguns recessos -, como foi feito no passado pelo ditador Getúlio Vargas, que o dissolveu por um período de oito anos. A chamada ditadura militar deu origem ao que se pode chamar política de caserna, dividindo a classe política em duas facções distintas, uma a favor e outra contra, a qual caracterizava sua oposição numa atitude publicamente crítica aos militares, mesmo que nos bastidores fosse cúmplice e compactuasse com seus atos. Era um tempo de conflito entre capitalistas e comunistas, era a guerra fria, que não só dividia o
mundo mas também o Brasil, onde num cenário político reprimido se ergueram grandes nomes de eloqüentes patriotas de ambos os lados, pois o patriotismo era o bandeira de todos.

Inesperado, um dia chegou ao fim o conflito, pegando a todos de surpresa, e o inimigo desapareceu. Estamos todos nós até hoje atordoados e por incompreensão adotamos atitudes revanchistas, pois ainda não conseguimos admitir o antigo inimigo como amigo, como parceiro. Sim, findada a guerra fria, muitas coisas parecem ter perdido o sentido, inclusive a velha bandeira de tantas horas adversas e com isso perdemos todos nós.

Hoje não se pensa mais em termos de ser útil à Pátria, mas no quanto esta pode nos servir. Falsas bandeiras se erguem diariamente para alimentar a indústria de uma hipócrita miséria, a fim de obter-se fabulosas somas como auxílio externo, que nunca servem aos devidos fins humanitários. A Pátria agora é exposta doente, mutilada e indigente, para que o seu estado mórbido comova os coraçôes poderosos, que, na expiação de suas culpas, doam esmolas cegas a mãos que nada farão para mudar, mas, à revelia da caridade, alimentarão mais ainda a doentia sociedade.

Devíamos nos envergonhar de receber essas esmolas e mais ainda do destino que é dado a elas. Está na hora de, sim, termos brio, orgulho, vergonha na cara, para criarmos os meios necessários que limpem a sujeira do País e varram a praga da miséria para bem longe de todos nós. Mais do que nunca, precisamos ser patriotas, sermos úteis à Pátria, e trabalharmos todos juntos, com muita garra e sem revanchismos idiotas, para tornarmos o Brasil um País digno de si mesmo e o brasileiro respeitado no mundo inteiro.

Bia Botana é analista política

UM CANDIDATO MILITAR



Quarta-feira, 4/8/93

Um candidato militar

BIA BOTANA


As eleições de 1994 estão próximas e o Brasil, por conta, já está virando de ponta-cabeça. Já há quem se apavore e diga que "as recentes nomeações de militares para cargos administrativos e ministeriais causaram sobressaltos e maus pressentimentos nos sensíveis analistas políticos". Será? Eu, como analista política, civil e mulher, portanto supersensível, não vejo as coisas bem assim, ao contrário, vejo que a postura revanchista de civis com militares começa, afinal, a chegar ao seu término, dando início a um tempo de parceria política, onde antigos inimigos são destituídos de velhos estereótipos em prol da imagem renovadora da amizade. Nada poderia ser mais saudável, tanto ao momenro político quanto à democracia brasileira.

A participação de homens de formação militar na política é um passo largo à real democracia, pois a carreira militar esculpe homens adequados para exercer comando e suportar responsabilidades, qualidades tão necessárias ao Chefe de Estado democrático. O melhor exemplo disso são os EUA. A grande democracia contemporânea possui, dos seus 42 presidentes, 25, ou seja, dois terços, que prestaram serviço militar nos vários ramos das forças armadas; um, Buchanan, prestou como soldado raso num grupo de voluntários durante a guerra de 1812. Bastante interessante é verificar que todos além dele alcançaram "status" de oficial, 11 o de generais. Alguns progrediram saindo das fileiras de recrutas. Três deles se tornaram comandantes de armas: Washington, Grant e Eisenhower. Na lista dos 11, o notável sucesso permitiu galgarem os degraus à escalada da presidência: Washington, Jackson, Willian Henry Harrison. Taylor, Pierce, Grant, Hayes, Garfield, Benjamin Harrison, Theodore Roosevelt e Eisenhower. A Marinha, por sua vez, deu aos EUA seis chefes executivos: Kennedy, Lyndon B. Johnson, Nixon, Ford, Carter e Bush.

Qualquer tipo de discriminação, portanto, que exclua militares de exercerem seus direitos democráticos é uma ignorância, ainda mais quando se refere aos da reserva. Impedi-los de participarem da vida política do País é sem dúvida uma violação imperdoável dos princípios que regem a democracia.

Se devemos temer algo, não são os militares com sua imagem de disciplina, integridade, moralidade, caráter e de grande credibilidade, que se no passado interviram nos caminhos políticos do País, sempre o fizeram atendendo ao apelo popular ou por ordem do Chefe do Estado. Devemos, sim, temer o perigo de um civil megalomaníaco, que venha a se tornar outro ditador como Getúlio Vargas, este sim fechou o Congresso por 9 anos e governou com poderes absolutos, e colocou a marca de seu poder pessoal em 24 anos do cenário político brasileiro. Getúlio foi um ditador, teve prerrogativas que jamais Castelo Branco, Costa e Silva, Médici, Geisel ou Figueiredo reivindicaram durante o período de tutela militar. Se à luz da justiça histórica estes não podem ser chamados de ditadores, o que dizer dos democratas Deodoro da Fonseca, Floriano Peixoto, Hermes da Fonseça e Gaspar Dutra, todos militares?

Dos 31 presidentes brasileiros só 9 foram militares, ou seja, menos de um terço, e destes os últimos quatro acima citados chegaram ao poder através da força soberana do voto popular, e nada impede que tal feito venha a se repetir novamente, ao momento em que haja uma articulação política em torno de um nome de origem militar para candidato à Presidência nas eleições de 1994.

A possibilidade de um candidato militar não é remota, e torna-se a cada dia uma realidade mais presente. É certo que todos nós sairemos ganhando, Isso é democracia.

Bia Botana é analista política



REPÚBLICA DAS BANANAS



Quarta-feira, 28/7/93

República das bananas

BlA BOTANA

Chegamos ao final de julho tudo continua como estava em julho. Algo está errado no Brasil, o tempo passa mas os problemas continuam sempre os mesmos; propõe-se mudar e nada muda.

Vejamos. No dia 17 de maio de 1993, o Jornol de Brasília trazia na página 7 os seguintes títulos: "Eliseu quer ampliar importação para conter abusos" e "Vieira investigará oligopólios". Ora, neste último domingo (25/07/93) o jornal trouxe na sua página 8 a seguinte chamada: "Cardoso quer controlar os preços oligopolizados". Lendo as reportagens em questão, é possível encontrar-se o mesmo conteúdo, apesar do espaço de tempo existente entre elas: o governo quer combater os aumentos abusivos dos preços dos oligopólios e dos monopólios através de uma legislação "anti-trust" (contra os monopólios). Eliseu já não é ministro, Vieira permanece, mas ao que parece não teve tempo ainda de averiguar a veracidade da pesquisa publicada pelo jornal O Globo, em 16/05/93, que revelou que apenas 24 empresas reunidas em 17 grupos industriais são responsáveis por 65% dos fornecimentos dos produtos à venda nos supermercados. Uma ação nitidamente oligopolizante e responsável diretamente pela prática constante e abusiva de aumentos de preços. Essa liberdade dos chamados aumentos defensivos, a ciranda financeira e o não-pagamento de impostos, adotados pelo empresariado nestes últimos dez anos, são ingredientes de uma poderosa bomba capaz de implodir qualquer país.

Tem sido triste constatar que o plano PAI é padrasto, e que Cardoso é mais apto para política de caserna do que para ação executiva do Ministério da Fazenda. Seria bom que alguém lembrasse não só ao respeitado sociólogo, mas também ao senhor presidente Itamar Franco, que o capitalismo não rima com indecisão, muito menos com essa atitude de ficar perguntando demais, a quem não é governo, o que fazer. Quando em 1933 Roosevelt tomou a decisão de acabar com o caos econômico dos EUA, ele não chamou empresários ou sindicalistas, "parti pris" no problema, mas sim um grupo de pensadores, que formaram um conselho, o "Brain Trust", o qual, junto com o presidente e o Congresso durante os primeiros chamados "100 Dias", formularam a legislação do famoso "New Deal", programa econômico de Roosevelt que veio a lhe render 12 anos de poder por haver atingido plenamente o objetivo de debelar a crise com o dito planejamento democrático, mas que na verdade foi uma rigorosa intervenção do Estado na economia. Pena, mas Itamar não é Roosevelt, e nem possui a legitimidade democrática necessária para impor um plano econômico de real grandeza, razão pela qual sempre está a pedir licença aos setores representativos da sociedade para tomar essa ou aquela medida.

Como se não bastasse a calamidade econômica, temos a calamidade política. Com o caso Collor-PC, verificou-se que os grandes empresários, entre outras coisas, desrespeitaram a lei que os impede, como pessoas jurídicas, a contribuir nas campaqhas eleitorais a fim de impedir o patrulhamento dos políticos durante o mandato. Desrespeitando a lei, os empresários investiram maciçamente nas eleições da Nova República e tomaram as rédeas da política, infração essa que se torna cada dia mais clara. Apesar dos escândalos já há quem ouse propor uma anistia aos infratores, políticos e empresários, alegando-se a necessidade de evitar um perigoso vácuo de poder! É muita coragem pensar que o povo vai ficar calado a mais abuso. Como bem o diz o economista Dornbusch. "Todos os golpes de Estado, no final das contas, são feitos pelas donas-de-casa."

A classe detentora do poder econômico transformou o Brasil numa República de Bananas quando condenou a classe média à miséria. E agora, quem vai segurar a revolta dos novos pobres, hem?

Bia Botana é analista política