Jornal de Brasília
Quarta-feira, 25/8/94
O pacificador
BIA BOTANA
Em 25 de agosto de 1803 nascia, no
Rio de Janeiro, Luiz Alves de Lima e Silva. Sua memória nos traz a lembrança de
um verdadeiio brasileiro. Dedicado ao serviço da Pátria, Duque de Caxias, título
com o qual passou para história do Brasil, se tornou um arquétipo da vontade
férrea e foi adotado como alcunha popular, que define um "Caxias"
como alguém cumpridor fiel e inabalável dos deveres.
Símbolo de nacionalidade, a brasilidade
de Caxias consagrou-se na luta pela consolidação da independência e como
assegurador da unidade e da paz nacional. Contudo, seu lado mais humano não se
revelou nos campos de batalha ou como ministro da Guerra, mas sim no seu
exercício político tão pouco divulgado. Admirado e reconhecido no seu caráter,
no respeito à lei e ordem e seu culto pelos valores nacionais, o cidadão Luiz
Alves de Lima e Silva não só foi presidente do Conselho de Ministros por três vezes como também deputado pelo Maranhão, senador pelo
Rio Grande do Sul e conselheiro de Estado.
Como cidadão reconhece-se em Caxias
uma brilhante integridade, que significa dizer a verdade, cumprir as promessas
e assumir a responsabilidade pelos erros cometidos, uma questão de ser o que se
alega ser, de fazer o que se diz que fará. Tal comportamento incomum no meio
político trouxe a Caxias os maiores sofrimentos motivados pela sordidez dos
embates políticos e a conquista de inimigos gratuitos. A mesquinharia, a
maldade e a intriga que vicejam no campo político se revelaram a Caxias mais
letais que o fio da espada e mais poderosas que as armas de fogo de seus
adversários no campo de batalha.
A luta política de Duque de Caxias
foi tão grandiosa quanta a desempenhada na área militar, entretanto, esta não o
cobriu de glória nem lhe rendeu os louros da vitória, todavia, o transformou
num exemplo único de lealdade à Nação, mesmo nos momentos que esta não lhe foi
reconhecida, um exemplo aliás que deveria nos servir.
Caxias, o pacificador, sempre deverá
ser lembrado, jamais esquecido. Neste momento tão importante ao País, cada um
de nós brasileiros deveríamos incorporar uma pequena chama que fosse de seu
espírito conciliador e com a mesma coragem lutar pelo Brasil.
A vitória do Tetra (Copa do Mundo) e a
estabilidade oferecida pelo real (nova moeda brasileira) deram início a um momento de reversão nacional
para a reconquista da auto-estima brasileira. As próximas eleições poderão
consolidar este sentimento se formos "Caxias" e nos conscientizarmos
da importância da integridade do nosso voto, onde uma escolha bem pensada,
evitando que o voto seja um instrumento de barganha e comércio, poderá também
reverter o quadro político nacional.
Neste momento é preciso valorizar sobretudo
a nossa participaçâo como cidadãos quanto ao destino do País, sermos capazes de
colocar a Nação acima das nossas aspirações pessoais e pensarmos que o bem de
muitos vale mais que o benefício de alguns poucos. Se é preciso, façarnos todos
um sacrífico, pois não é hora mais de defesa de privilégios isolados.
Nada teremos a temer por adotar o exemplo
de Duque de Caxias, ao contrário, só ganharemos se agirmos como pacificadores
usando nossa cidadania como deve ser usada, não só na sua condição de direitos
e reivindicações, mas também quanto aos deveres implícitos. Como Caxias, é o
tempo de cumprirmos nossos deveres para com a Pátria, mais do que nunca devemos
servi-la e reerguê-la com um trabalho incansável e íntegro. A cidadania não foi
feita para ser negociada, mas sim para ser vivenciada, esse é o legado que
Caxias nos deixou, vamos honrá-lo.
Bia Botana é analista política
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