SEMENTES

Bem Vindos!

Sempre pensei que escrever é semear idéias.
Aqui vocês encontrarão as sementes que eu já plantei,
que germinaram, cresceram, deram flores e frutos.

Esse Blog é a semente dos frutos colhidos há muito tempo,
elas dormiram na escuridão por longos anos
e agora
eu estou a semeá-las novamente...,
para germinarem, crescerem, florescerem...
e um dia darem seus frutos.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

REPÚBLICA DAS BANANAS



Quarta-feira, 28/7/93

República das bananas

BlA BOTANA

Chegamos ao final de julho tudo continua como estava em julho. Algo está errado no Brasil, o tempo passa mas os problemas continuam sempre os mesmos; propõe-se mudar e nada muda.

Vejamos. No dia 17 de maio de 1993, o Jornol de Brasília trazia na página 7 os seguintes títulos: "Eliseu quer ampliar importação para conter abusos" e "Vieira investigará oligopólios". Ora, neste último domingo (25/07/93) o jornal trouxe na sua página 8 a seguinte chamada: "Cardoso quer controlar os preços oligopolizados". Lendo as reportagens em questão, é possível encontrar-se o mesmo conteúdo, apesar do espaço de tempo existente entre elas: o governo quer combater os aumentos abusivos dos preços dos oligopólios e dos monopólios através de uma legislação "anti-trust" (contra os monopólios). Eliseu já não é ministro, Vieira permanece, mas ao que parece não teve tempo ainda de averiguar a veracidade da pesquisa publicada pelo jornal O Globo, em 16/05/93, que revelou que apenas 24 empresas reunidas em 17 grupos industriais são responsáveis por 65% dos fornecimentos dos produtos à venda nos supermercados. Uma ação nitidamente oligopolizante e responsável diretamente pela prática constante e abusiva de aumentos de preços. Essa liberdade dos chamados aumentos defensivos, a ciranda financeira e o não-pagamento de impostos, adotados pelo empresariado nestes últimos dez anos, são ingredientes de uma poderosa bomba capaz de implodir qualquer país.

Tem sido triste constatar que o plano PAI é padrasto, e que Cardoso é mais apto para política de caserna do que para ação executiva do Ministério da Fazenda. Seria bom que alguém lembrasse não só ao respeitado sociólogo, mas também ao senhor presidente Itamar Franco, que o capitalismo não rima com indecisão, muito menos com essa atitude de ficar perguntando demais, a quem não é governo, o que fazer. Quando em 1933 Roosevelt tomou a decisão de acabar com o caos econômico dos EUA, ele não chamou empresários ou sindicalistas, "parti pris" no problema, mas sim um grupo de pensadores, que formaram um conselho, o "Brain Trust", o qual, junto com o presidente e o Congresso durante os primeiros chamados "100 Dias", formularam a legislação do famoso "New Deal", programa econômico de Roosevelt que veio a lhe render 12 anos de poder por haver atingido plenamente o objetivo de debelar a crise com o dito planejamento democrático, mas que na verdade foi uma rigorosa intervenção do Estado na economia. Pena, mas Itamar não é Roosevelt, e nem possui a legitimidade democrática necessária para impor um plano econômico de real grandeza, razão pela qual sempre está a pedir licença aos setores representativos da sociedade para tomar essa ou aquela medida.

Como se não bastasse a calamidade econômica, temos a calamidade política. Com o caso Collor-PC, verificou-se que os grandes empresários, entre outras coisas, desrespeitaram a lei que os impede, como pessoas jurídicas, a contribuir nas campaqhas eleitorais a fim de impedir o patrulhamento dos políticos durante o mandato. Desrespeitando a lei, os empresários investiram maciçamente nas eleições da Nova República e tomaram as rédeas da política, infração essa que se torna cada dia mais clara. Apesar dos escândalos já há quem ouse propor uma anistia aos infratores, políticos e empresários, alegando-se a necessidade de evitar um perigoso vácuo de poder! É muita coragem pensar que o povo vai ficar calado a mais abuso. Como bem o diz o economista Dornbusch. "Todos os golpes de Estado, no final das contas, são feitos pelas donas-de-casa."

A classe detentora do poder econômico transformou o Brasil numa República de Bananas quando condenou a classe média à miséria. E agora, quem vai segurar a revolta dos novos pobres, hem?

Bia Botana é analista política

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