Jornal de Brasília
Quarta-feira, 6/7/94
Forças desarmadas II
BIA BOTANA
No dia 11/5/93 o Jornal de Brasília
publicou nesta página o artigo chamado“Forças Desarmadas”, onde defendi as reivindicações
militares existentes na época. Passado, portanto, mais de um ano, revivo o
mesmo tema, ainda surpreendentemente atual.
A partir de 93 foi crescente a
menção das Forças Armadas na mídia, fosse em razão de fatos consistente ou de
meras especulações. Muito se falou em golpe militar, devido à instabilidade
política do país, assim comoem “militarização” do Governo", já que ocorreu
a ocupação de altos cargos governamentais por pessoas de formação militar. É
inegável que o presidente Itamar Franco buscou apoio para seu frágil governo
nas Forças Armadas, tentando aplacar o claro descontentamento militar pelo destino
de recursos, muito aquém das reais necessidades ao reequipamento bélico. Mas, o
problema premente da área de recursos humanos ainda aguarda ser resolvido,
perpetuando-se a remuneração desprezível que avilta com a humilhação um
trabalho de extrema relevância à Nação. De que servirão as armas sem tropas?
É correto alegar-se que médicos,
professores e outros servidores públicos também recebem salários vergonhosos, todavia
estes não obedecem a um regime de dedicação exclusiva em tempo integral, nem
estão sujeitos a movimentações frequentes e muito menos exercem atividades de
risco como os militares. Não reconhecer o mérito da profissão militar demonstra
total desconhecimento do sacrifício imposto ao dever constitucional atribuído
às Forças Armadas, sempre prontas a atender ao chamado da Nação.
Há ainda quem diga que as Forças
Armadas deveriam ter seu efetivo reduzido e profissionalizado para reduzir o
custo com defesa. Não sabem que o sistema profissional tem um custo altíssimo e
traria o fim do expressivo serviço educacional prestado por elas a camadas mais
carentes da população, de onde sai a maioria dos 300 mil indivíduos que formam
seu efetivo. Efetivo este que corresponde a só 0,128% da população brasileira,
expressivamente menor se comparado aos existentes em outros países, entretanto
é responsável, apesar de tâo reduzido, pela manutenção da paz em 15.700 km de fronteiras
terrestres, mais de 8 mil km de costa e um espaço aéreo superior a 8,5 milhões
de km2.
Em termos de gastos com a defesa,
a posição do Brasil chega a ser ridícula. Enquanto os EUA destinaram 19,8% do seu
orçamento de 93 à defesa, o Brasil que tem um orçamento muitas vezes inferior
destinou apenas 2,56%. Tendo como base o PIB (Produto Interno Bruto), esses
gastos represenram apenas 0,31%, muito distante do gasto de outros países da América
Latina; Argentina 1,19%; Venezuela 3,40%; Bolívia 3,50% e assim por diante. Os gastos
sob uma análise “per capita”são mais espantosos; o Brasil gasta US$ 6,79, a
Argentina US$ 23,30, o Chile US$ 43,65 e a Venezuela chega US$ 80,77.
Frente aos dados acima
apresentados, torna-se evidente a pobreza das nossas Forças Armadas., o que não
impede que operem com alto nível de operacionalidade e profissionalismo nas
Forças de paz da ONU e atuem nas inúmeras áreas conflitantes do mundo.
Internacionalmente reconhecidas em seu mérito, as Forças Armadas
brasileiras não são valorizadas no solo pátrio. Os brasileiros não percebem que
a humilhação salarial imposta aos militares é na verdade uma humilhação à Pátria
por eles representada.
Continuo achando que a
estabilidade de uma nação reside no seu poder bélico em tempo de paz. Você que
lê este artigo, caso não existissem as Forças Armadas, teria coragem, se
preciso fosse, de morrer pelo Brasil? É bem possível que não. Sendo assim,
vamos valorizar aqueles que amam o Brasil muito mais do que nós, capazes de
morrer pela Pátria, do mesmo modo que colocam suas vidas em defesa das nossas vidas.
Bia Botana é analista política
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