Jornal de Brasília
Quarta-feira, 13/7/94
Candidatos de segunda classe
BIA BOTANA
Tendo por obrigação ler os jornais
de Brasília; do Rio e São Paulo, observei o pouco espaço destinado na mídia
impressa aos candidatos ao Legislativo. A exceção honrosa fica com o nosso
Jornal de Brasília, que em seu caderno "Cidade" dedica um espaço equitativo
aos candidatos ao Executivo e ao Legislativo. A boa vontade do jornal vai além,
pois publica uma coluna especial com o perfil e a fotografia dos candidatos à
Câmara Distrital, que diga-se não são poucos. O Jornal de Brasília demonstra, assim, um respeito enorme ao seu
leitor, por bem informá-lo, e respeito maior ainda pelo espírito democrático,
valorizando todos os candidatos. Um exemplo de ética jornalística, que deveria ser
seguido por todos os outros jornais.
Sem espaço na mídia e ofuscados
pelo brilho dos candidatos ao Executivo - Presidência e governos -, os
candidatos ao Legislativo - senadores, deputados federais e estaduais, no caso
de Brasília deputados distritais –, estão sendo tratados como candidatos de
segunda classe, o que é um absurdo.
Os últimos fatos ocorridos no Congresso
Nacional não valida o processo que vem denegrindo o Poder Legislativo. Este
como instituição deve continuar sendo o maior símbolo da democracia. São
senadores e deputados os responsáveis pelo exercício democrático livre das atitudes
autoritárias do Executivo. O apoio dos deputados mais votados é fundamental
para governabilidade. Quando um governante tem que fazer uma indicação administrativa
a consulta aos deputados mais votados não só é primordial como também um dever
democrático, devendo prevalecer a indicação do nome proposto pelo representante
do povo sobre a vontade do Executivo.
Em que país estamos que desconsideramos
a importância dos representantes populares? Podemos nós brasileiros estarmos
tão perdidos na nossa consciência política que não sabemos mais o que é democracia?
Certamente ainda temos tempo para
corrigir o erro deste procedimento. As eleições casadas não poderão servir de
desculpas para falta de responsabilidade dos meios de comunicação em não
informar e nem esclarecer o eleitorado. Se continuarem agindo do modo presente
só estarão apoiando o abuso do poder econômico político e impedindo que ocorra
a saudável renovação do quadro de representantes.
No caso de Brasília, o abuso do poder
econômico chega a níveisi nacreditáveis. Em todo País sempre houve e há
candidatos endinheirados, que compram cabos eleitorais, aqui, ultrapassaram a
barreira do som: estão comprando candidatos. Afora as candidaturas bilionárias
de Paulo Octávio, Osório Adriano e Luiz Estevão, que competem para ver quem
pode mais, os outros candidatos ao Legislativo
estão fazendo suas campanhas a duras penas. Para agravar com o tal "bônus
eleitoral" não há empresário que queira contribuir financeiramente.
"Gato escaldado tem medo de água fria".
A campanha corpo a corpo, num país
onde se movimentar inclui grandes distâncias, vira um assalto aos bolsos e um
convite ao suicídio, tal é o desgaste físico do candidato. O espaço
obrigatório, que será dado na mídia eletrônica dentro em breve, pouco fará para
reverter esta comprometedora situação. Não precisamos ter dúvidas que os candidatos
ao Executivo são os que vão mais aparecer, legando aos legislativos uma
desprezada segunda classe.
Fica aqui uma sugestão: façam como
o Jornal de Brasília, abram com
criatividade espaços alternativos aos candidatos ao Legislativo para que
apareçam na mídia, pois absolutamente eles não são de segunda classe, mas de
primeira, são a própria democracia.
Bia Botana é analista política
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