SEMENTES

Bem Vindos!

Sempre pensei que escrever é semear idéias.
Aqui vocês encontrarão as sementes que eu já plantei,
que germinaram, cresceram, deram flores e frutos.

Esse Blog é a semente dos frutos colhidos há muito tempo,
elas dormiram na escuridão por longos anos
e agora
eu estou a semeá-las novamente...,
para germinarem, crescerem, florescerem...
e um dia darem seus frutos.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

CONTOS DA CAROCHINHA




Jornal de Brasília

Sábado, 13/11/93

Contos da Carochinha

BIA BOTANA

Adoro este Brasil! Um país cheio de facetas, berço esplêndido de artimanhas. Aqui, apesar da modernidade, ainda se faz potítica na base dos "contos da carochinha" - para quem não sabe uma das melhores coletâneas de histórias de fantasias infantis deste século.

Essa CPI do Orçamento de tão fantástica mais parece um verdadeiro conto da carochinha, para não dizer que está sendo um golpe que está dando certo.

Vamos refrescar a memória recordando alguns fatos recentes. Ao final de setembro, Brasília entrava em convulsão com a proximidade da revisão constitucional. De um lado se posicionaram a favor da revisão os empresários, as federações de indústria e comércio, os partidos comprometidos com o neoliberalismo e os ditos de direita; do outro lado os contras, os líderes sindicais, o PT e os partidos ditos de esquerda, a CUT e até a OAB. Passeatas e protestos foram feitos pelos contras, e, pasme-se, às vésperas do início da revisão, 6 de outubro, um ministro do Supremo Tribunal Federal, parente do ex-presidente Fernando Collor, deu um parecer solitário contra o início da revisão. Uma coisa de louco! No dia seguinte, o Judiciário, para não fazer papel ridículo, reuniu-se para proceder à revogação de tão absurda decisão.

Apesar desses protestos veementes e nada racionais dos contras, a revisão será feita. Iniciaram-se os trabalhos, mas o feriado de 12 de outubro propiciou um intervalo de uma semana, tempo mais que suficiente para os contras se armarem e consultarem seus "dossiês'" e escolherem qual seria a bomba que jogariam, desta feita no Congresso Nacional.

A nova prisão, naqueles dias, do ex-diretor do Departamento de Orçamento da União, José Carlos Alves dos Santos, por conta do encontro de alguns milhares de dólares inexplicáveis em sua residência e a suspeita do assassinato de sua mulher, foi oportuna e veio a servir como uma luva, resultando num desfecho dos mais inesperados.

Na manhã de segunda-feira, dia l8 de outubro, o Congresso Nacional amanheceu sob grande tensão. José Carlos, após quase um ano envolvido num escandaloso processo de corrupção, havia tido uma crise de consciência (sic), e aberto o bico, lançando acusações de corrupção envolvendo parlamentares, ministros e governadores. De forma que o senador Humberto Lucena, também envolvido, teve que entrar, no dia 20, no Supremo Tribunal Federal com uma interpelação judicial contra o ex-relator da Comissão de Orçamento, deputado João Alves, para que ele confirmasse as informações das práticas irregulares da Comissão Mista de Orçamento do Congresso Nacional. Do resto já se sabe, um mar de lama com sete anõezinhos brincando.

Estamos na segunda semana de novembro, e a votação do regimento interno e de destaque da revisão prevista para os dias 3 e 4 não se deu. A questão dessa revisão, desta maneira absurda, vai sendo posta de lado, relegada ao esquecimento a favor de um circo de inconsequentes denúncias, servidoras a vinganças pessoais, como a de Marinalva. Enquanto isso, perde-se a oportunidade de desembaraçar-se a economia das atuais restrições e inviabilizam-se os objetivos do bem-estar social dispostos na Carta de 88. Tudo isso só porque o PT deseja que a revisão seja adiada para quando o partidão coloque Lula na presidência e obtenha a maioria no Congresso de 95, e possa então fazer uma Carta conforme suas metas.

Tanta megalomania lembra o desfecho collorido. Fica o recado aos contras: parem de contar contos da carochinha. O Brasil precisa trabalhar. Em 94, nem mesmo o PT vai escapar do voto "mãos limpas".

Bia Botana é analista política e diretora-geral do CEBRADE

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