SEMENTES

Bem Vindos!

Sempre pensei que escrever é semear idéias.
Aqui vocês encontrarão as sementes que eu já plantei,
que germinaram, cresceram, deram flores e frutos.

Esse Blog é a semente dos frutos colhidos há muito tempo,
elas dormiram na escuridão por longos anos
e agora
eu estou a semeá-las novamente...,
para germinarem, crescerem, florescerem...
e um dia darem seus frutos.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

O PODER É AÉTICO





Jornal de Brasília

Quinta-feira, 26/5/94

O poder é aético

BIA BOTANA

"Quem quiser preservar a honra deve se manter fora dos negócios públicos", disse Sócrates quando acusado de ausentar-se das discussões políticas atenienses em defesa da ética. Uma virtude estranha ao poder que não só cavou o túmulo do esplendoroso século de Péricles, assim como enterrou Atenas sob o peso da tirania tebana.

Os defensores contemporâneos da ética na política, afora carecerem de criatividade, desconhecem a utopia do ideal que os norteia, uma vã filosofia sem paralelo no campo real. A História se encarrega de provar o quanto o poder é aético, já que este reflete o caráter humano fácil de sucumbir ao seu brilho, capaz de tudo para possuí-lo e de mais ainda para não perdê-lo.

Hoje, diariamente, explodem denúncias sobre o comportamento antiético no meio político. A mídia evidencia com cínica indignação os bastidores do poder - anteriormente velados por perspicaz censura ao populacho -, como se fosse possível a imunidade à perversão existente. E esquecido que "todo homem tem seu preço", não importa como esse preço é pago. Até um santo pode ser corrompido pelo poder na sua vaidade de bondade. O que dizer, então, do poder político com suas dimensões extraordinárias? O bem e o mal no poder se definem nos resultados do seu exercício, mais pelo potencial de resolução de dificuldades do que pela eqüidade. Agora como na Revolução Francesa, a mídia, tal como a guilhotina, serve à luta pela conquista do poder.

A força conquistatória da mídia pode ser medida na Operação Mãos Limpas, deflagrada na Itália, que atingiu os democratas cristãos controladores do poder, mesmo que indiretamente, desde a Segunda Guerra Mundial. Apoiado no seu império de mídia, não é por acaso que Silvio Berlusconi é hoje primeiro-ministro da Itália. Não será de espantar que Berlusconi, o paladino da ética, no futuro mostre suas garras afiadas, revelando que sua busca pelo poder visava mais suas ambições pessoais que as do povo.

Aqui no Brasil, em 1989, nosso cidadão Kane, Roberto Marinho, definiu com sua mídia global a eleição de Collor, escolheu mal, o efeito Mãos Limpas italiano fez o tiro sair pela culatra. A CPI do Orçamento foi uma novela de final surpreendente. Colocou no mesmo banco dos réus tanto o defensor da ética no poder, inimigo nº 1 de Collor, o deputado Ibsen Pinheiro (PMDB-RS), como o não tão ético amigo de Collor, deputado Ricardo Fiúza (PFL-PE). Por ironia, no julgamento de corrupção, enquanto Ibsen foi condenado Fiúza foi absolvido. Um veredito que confirma que a virtude inexiste no poder.

Mesmo as atuais campanhas eleitorais já apresentam o caráter aético do poder: 1) Lula nos EUA disse que o PT (Partido dos Trabalhadores) estaria de braços abertos ao capital estrangeiro. Não é o partidão contra as multinacionais e ultranacionalista?; 2) FHC (Fernando Henrique Cardoso/ PSDB, Partido Social Democrata Brasileiro), ex-coleguinha de Lula e dado a comunistóide angelical, dolarizou o País. Bajula desavergonhado o empresariado sob a máscara capitalista emprestada do PFL (Partido da Frente Liberal). Despudorado, lança mão dos programas de governo alheios. E os direitos autorais, Fernandinho, onde ficam?; 3) Flávio Rocha, o bom-moço do PL Partido Liberal), bate figurinha com o PT, tentando fazer uma permuta do seu imposto único com o uso do projeto de renda mínima petista. Ora, não era Flávio Rocha virtual, opositor de Lula?; 4) Sarney, que só é PMDB (Partido do Movimento Democráticoa Brasileiro) por ser vira-casaca, está fazendo qualquer negócio para pôr a mão no tal "puder". A CPI da Corrupção de seu governo, engavetada por Ulysses Guimarães, o povo bonzinho já até esqueceu. Sarney está vendendo seu apoio, FHC quer aceitar, será que acham que distribuir leite gera emprego e divisas ao País?

Por essas e por outras a política do pão e circo, do césar romano Octavianus Augustus, ainda sobrevive, dada à perfeição com que resume a realidade aética do poder  expressa sua mais eficiente manipulação.

Bia Botana é analista politica

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