SEMENTES

Bem Vindos!

Sempre pensei que escrever é semear idéias.
Aqui vocês encontrarão as sementes que eu já plantei,
que germinaram, cresceram, deram flores e frutos.

Esse Blog é a semente dos frutos colhidos há muito tempo,
elas dormiram na escuridão por longos anos
e agora
eu estou a semeá-las novamente...,
para germinarem, crescerem, florescerem...
e um dia darem seus frutos.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

DIGNIDADE BRASILEIRA




Jornal de Brasília

Quarta-feira, 19/1/1994

Dignidade brasileira

BIA BOTANA

Se alguém pensa que o Brasil vai mal, está redondamente enganado. O Brasil vai muito bem, obrigado. Um balanço honesto das realizações do ano de 1993 nos mostra que apesar das tormentas sofridas nós progredimos, e muito. Nossa economia, apesar de tudo e apesar de tudo e a duras penas, rompeu a inércia. Hoje nós podemos ver a ameaça inflacionária mais como uma onda de ação especulatória do que o reflexo de uma má economia do País. Nós devemos pois desconfiar de previsões catastróficas de uma inflação acima de 5.000% prevista para 1994. Algo deve estar seriarnente errado se tal acontecer, pois não existem razõês consistentes, nem ao menos causas que justifiquem tal calamidade, a não ser que exista uma indústria inflacionária, que se locuplete indevidamente de uma situação falsamente caótica na economia brasileira.

Nós fechamos o ano de 1993 corn uma reserva cambial em torno de mais de 28 bilhões de dólares, um fato inédito nos últimos anos, isto quer dizer que temos dinheiro, mais, que o País possui uma poupança.

Nossa dívida externa, antes tão assustadora, é uma das mais baixas do mundo com releção ao PIB (Produto Interno Bruto), atingindo só 20% ou 30% deste. Para se ter uma idéia mais precisa, a dívida externa dos Estados Unidos repres€enta 80% do PIB e a da ItáIia 105% do PIB.

O nosso déficit público é só de 3% do PIB, enqunto o dos EUA é o triplo. Somos uma das l0 primeiras economias do mundo, em 1993 nossa taxa de crescimento econômico atingiu algo em torno de 4%, muito satisfatório para o atual momento mundial, provaa irrefutável que saímos da estagnação. O setor industrial voltou a crescer, haja vista o sucesso das indústrias automobilísticas. O lucro bancario foi excepcional, enquanto o setor comercial batia l0% de lucratividade sobre o período anterior. O setor agropecuário evidencia o progresso de novas zonas rurais como a do Vale do Rio São Francisco.

Para vermos o Brasil tal como ele é, precisamos de números precisos e não dc suposições numéricas. Sim, o Brasil melhorou, e muito. Outros mais pessimistas poderão questionar: E a situação potítica? Só cego é que não vê o atual grau de civilidade democrática que estamos atingindo. Não poderia haver maior demonstração desta que o presente ato de autojulgamento do poder Legislativo, e a autovigilância contra corrupção a que vem se submetendo o Poder Execuüvo.

É preciso dar um basta na turma do "quanto pior melhor". Paremos com a síndrome pessimista, que não  há de construir nada. Nós temos tudo nas nossas mãos. Um País maravilhoso, com uma beleza natural inigualável, nós temos riquezas, nós somos um povo trabalhador e esforçado. Nós precisamos, sim, pensar com mais objetividade, planejar o futuro, lutar para uma melhor distribuição de renda, um capitalismo mais contemporâneo, e abandonar a mentalidade ultrapassada do início do século. Nós temos que lutar para criarmos meios mais enficientes e eficazes que dêem condições para que o trabalho se dissemine entre todos. E que se ajuda for necessária, que esta seja a quem realmente necessite.

É necessário que se incuta uma mentalidade revigorada onde o trabalho se torne motivo de orgulho e não de vergonha, que as remunerações sejam justas de acordo com a produtividade do trabalhador. É preciso sobretudo que se lute pela dignidade brasileira, para tanto precisamos priorizar a saúde e a educação como metas a serem atingidas até o final deste século. Portanto nos empenhemos com fé e força para adquirir dignidade, pois sem ela continuaremos a ser desprezados e tratados com desdém pelos países desenvolvidos e jamais teremos o respeito que justamente merecemos.


Bia Botana é analista política e diretora geral do Cebrade (Centro Brasileiro de Desenvolvimento)

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